Page 57 - newDATAmagazine | 11>03>2022

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MAGAZINE
COLUNA
Precisamos de designers de Cidades (Inteligentes)
As últimas crises mundiais deixaram claro
que não somos sustentáveis. Dependemos
fortemente de fontes caras de energia e de
combustíveis poluentes. As filas de carros
individuais nas bombas de abastecimento
afirmam que grande parte da população é muito
dependente de carros individuais. Com a subida
de combustíveis, era lógico que a população
olhasse para meios de mobilidade alternativos,
porém a realidade em muitas das cidades é que
esses meios ou não existem, ou não estão
ajustados às necessidades da população. É
nestas crises que percebemos que as cidades
não estão organizadas, nem desenhadas de
forma útil, ou seja, muito longe do conceito de
cidade inteligente.
Uma cidade inteligente é, na sua definição, o
uso de tecnologias de informação e
comunicação para melhorar tanto a qualidade
dos serviços governamentais quanto a
qualidade de vida dos cidadãos. Na última
década, o número de cidades inteligentes em
todo o mundo tem crescido. No entanto, mesmo
nos casos de maior sucesso, ainda existem
vários problemas e barreiras que desafiaram a
implementação de uma cidade inteligente.
Essas questões começam na base, com o
modelo de governo da cidade e suas políticas de
mobilidade, saúde, economia e justiça, mas
também se estendem aos desafios ainda
existentes de disponibilidade de tecnologias
básicas, como, por exemplo, a internet.
Existem dois tipos de governação local: 1)
aquelas que ainda são resistentes à aplicação
das tecnologias e 2) os governos locais que
levam a sério o investimento em novas
tecnologias com a promessa de uma cidade
inteligente. Nesses casos, a recolha de dados
aumenta exponencialmente em quantidade,
mas nem sempre em qualidade.
Os riscos de apostar às cegas na tecnologia
têm consequências terríveis, que desacreditam
o seu uso e podem trazer perdas financeiras
substanciais para os governos locais. Portanto,
a adoção da chamada tecnologia inteligente
carece de diversos estudos de implementação,
sendo um deles o desenho da tecnologia, da rede
e do local onde será implantada, ou seja, o
desenho da cidade.
O papel do design no desenvolvimento de
cidades inteligentes, especificamente
elementos (ou seja, produtos inteligentes), para
os cidadãos da cidade tecnológica, é cada vez
mais importante. O projeto de uma cidade
inteligente tem impacto não só nos aspetos
tecnológicos, mas também nas experiências do
cidadão (por exemplo, interação, perceção) com
os produtos. O significado embutido nas cidades
inteligentes é essencial para formas e
interações, que são projetadas para satisfazer
as necessidades psicológicas e funcionais, bem
como para a experiência, que pode mudar o
comportamento dos cidadãos.
Portanto, os produtos inteligentes devem ser
projetados para atender bem às necessidades
emocionais de bem-estar, facilitando interações
saudáveis e seguras em diferentes escalas (por
exemplo, de indivíduos para a comunidade), bem
como às preocupações funcionais, melhorando
o desempenho da recolha aberta de dados. Além
disso, a localização dos produtos inteligentes na
cidade é uma preocupação significativa, bem
como a sua aparência (por exemplo, escolha do
material).
Uma cidade não pode ser inteligente se não
for desenhada e projetada de forma inteligente.
Bruno Silva
Researcher at Instituto de
Telecomunicações e Assistant Professor
at Universidade da Beira Interior
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